sexta-feira, 18 de março de 2011

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                          Confissão hoje

Não se pode falar de 'Confissão pelo iPhone'

Durante a Quaresma, uma atitude esperada de todos os católicos é a celebração penitencial. Para isso, além dos horários normais que os párocos têm em suas paróquias para atender as confissões, existem os “mutirões” de confissão, quando os padres de uma mesma região, setor ou forania são convidados a atender a todos, dando assim oportunidade para que todos se confessem.
Pouco tempo atrás saiu, provindo de agências de notícias internacionais, o anúncio de uma provável “grande novidade” na Igreja: a confissão feita por intermédio do Iphone, Ipad e Ipod touch. Essa notícia chegou e foi divulgada como uma grande novidade!
A rapidez hodierna dos meios de comunicação, num verdadeiro processo de globalização das notícias, faz com que fatos e ditos cheguem a muitos em pouquíssimo tempo e acabem confundindo as pessoas. Por isso, é preciso que estejamos atentos e confirmemos as fontes de onde provêm e como estão verdadeiramente postas na sua origem, no seu texto e em seu contexto. Um ditado popular (os sempre sábios dizeres de um povo) já atesta: "Quem conta um conto, aumenta um ponto!" e hoje esse ponto pode tornar-se uma bola de neve, que se não é correta espalha o erro, o qual se torna difícil de dissolver.
A notícia vista com atenção e feita perceber em sua verdade não se tratava do que foi propagado, mas, na realidade, de um instrumento “desenhado para ser usado na preparação da confissão, e depois como auxílio na própria confissão. O aplicativo oferece o exame de consciência, um guia passo a passo do sacramento, ato de contrição e outras orações. Os múltiplos usuários acedem a seus perfis protegidos por senha, onde, através do exame de consciência, marcam os elementos pertinentes para sua confissão e podem fazer outras notas pessoais”. Este não é o primeiro nem o último aplicativo ligado a temas religiosos. Porém, é interessante ver que poderá ser de utilidade para um exame de consciência se a autoridade eclesiástica deu seu aval com relação ao conteúdo dele [aplicativo]. Assim como no passado muitos utilizavam livrinhos para o exame de consciência e outros anotavam em papéis seus pecados para não os esquecerem na hora da confissão auricular, hoje os meios eletrônicos podem ajudar nesse aprofundamento. Porém, nada disso substitui a confissão auricular com o ministro ordenado.
Para a recepção do sacramento, que possui ao menos três nomes, que são sinônimos e acabam mesmo por significar uma de suas fases: penitência, confissão ou reconciliação, a Igreja pede que o penitente cumpra ao menos três atos, que são: o ato da contrição (que precede), o ato da confissão (exposição dos pecados diante do confessor) e o ato da satisfação (cumprimento da penitência pelos pecados cometidos).
O aplicativo a que nos referimos e outros que têm o mesmo conteúdo, embora sejam compostos para ser utilizados no sacramento, não o são como canal para a confissão e a satisfação, mas simples e unicamente para preparar a contrição, que, entre os atos do penitente, ocupa o primeiro lugar, o qual, em verdade, é “uma dor da alma e um desprezo pelo pecado cometido, com o propósito de não pecar mais no futuro”.
Para cessar o ruído da comunicação errônea, o Diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé afirmou: “É essencial compreender bem que o sacramento da penitência requer necessariamente a relação de diálogo pessoal entre penitente e confessor, assim como a absolvição por parte do confessor presente”. “Isso não pode ser substituído por nenhum aplicativo informático. Por isso não se pode falar de 'Confissão pelo iPhone'”. Entretanto, em um mundo em que muitas pessoas utilizam suportes informáticos para ler e refletir (e inclusive textos para rezar), não se pode excluir que uma pessoa faça sua reflexão de preparação à confissão (contrição) tomando a ajuda de instrumentos digitais. Isso, de forma parecida ao que se fazia no passado, como dissemos, “com textos e perguntas escritas em papel, que ajudavam a examinar a consciência... tratar-se-ia de um subsídio pastoral digital que “poderia ser útil”, mas sabendo que “não é um substituto do sacramento”.
No entanto, esse ruído de comunicação, que quase causou confusões na cabeça de muitos, pode ser uma oportunidade de notar que, mesmo com um mundo digitalizado, também a confissão mereceu um espaço de preparação com aplicativos divulgados pela mídia mundial. Isso pode ser uma oportunidade de catequese que aprofunde o valor da confissão. Se os jovens, que mais utilizam as mídias sociais, já têm um aplicativo para ajudar no exame de consciência, é sinal de que têm também interesse em celebrar este sacramento em sua igreja.
É uma responsabilidade nossa acolher a todos aqueles que, nesta Quaresma, querem manifestar o seu arrependimento e iniciar uma vida nova, celebrando no sacramento da penitência o seu retorno a Deus!
Que o tempo da Quaresma seja este tempo de renovação interior de todos na busca de viverem com generosidade sua vida batismal!
Dom Orani João Tempesta, O. CistArcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro

Quaresma, a luta contra o pecado

Desde o início do Cristianismo a Quaresma marcou para os cristãos um tempo de graça, oração, penitência e jejum, com o objetivo de se chegar à conversão. Ela nos faz lembrar as palavras de Jesus: “Se não fizerdes penitência, todos perecereis” (Lc 13,3). Se não deixarmos o pecado, não poderemos ter a vida eterna em Deus; logo, a atividade mais importante é a nossa conversão, renunciar ao pecado.
Nada é pior do que o pecado para a vida do homem, da Igreja e do mundo, ensina a Igreja; por isso Cristo veio, exatamente, “para tirar pecado do mundo” (cf. Jo 1, 29). Ele é o Cordeiro de Deus imolado para isso.
São Paulo insiste: “Em nome de Cristo vos rogamos: reconciliai-vos com Deus!” (2 Cor 5, 20); “exortamo-vos a que não recebais a graça de Deus em vão. Pois ele diz: Eu te ouvi no tempo favorável e te ajudei no dia da salvação (cf Is 49,8). Agora é o tempo favorável, agora é o dia da salvação” (2 Cor 6, 1-2).
A Quaresma nos oferece, então, esse “tempo favorável” para deixarmos o pecado e voltarmos para Deus. E para isso fazemos penitência. O seu objetivo não é nos fazer sofrer ou nos privar de algo que nos agrada, mas ser um meio de purificação de nossa alma. Sabemos o que devemos fazer e como viver para agradar a Deus, mas somos fracos; a penitência é feita para nos dar forças espirituais na luta contra o pecado.
A melhor Penitência, sem dúvida, é a do Sacramento que tem esse nome. Jesus instituiu a Confissão em Sua primeira aparição aos discípulos, no mesmo domingo da Ressurreição (cf. Jo 20,22) dizendo-lhes: “A quem vocês perdoarem os pecados, os pecados estarão perdoados”. Não há graça maior do que ser perdoado por Deus, estar livre das misérias da alma e estar em paz com a consciência.
Além do Sacramento da Confissão a Igreja nos oferece outras penitências que nos ajudam a buscar a santidade: sobretudo as recomendadas por Jesus no Sermão da Montanha (cf. Mt 6,1-8): “O jejum, a esmola e a oração”, chamados pela Igreja de “remédios contra o pecado”.
Cristo jejuou e rezou durante quarenta dias (um longo tempo) antes de enfrentar as tentações do demônio no deserto e nos ensinou a vencê-lo pela oração e pelo jejum. Da mesma forma, a Igreja quer ensinar-nos como vencer as tentações de hoje. Vencemos o pecado praticando a virtude oposta a ele. Assim, para vencer o orgulho, devemos viver a humildade; para vencer a ganância devemos dar esmolas; para vencer a impureza, praticar a castidade; para vencer a gula, jejuar; para vencer a ira, aprender a perdoar; para vencer a inveja, ser bom; para vencer a preguiça, levantar-se e ajudar os outros. Essas são boas penitências para a Quaresma.
Todos os exercícios de piedade e de mortificação têm como objetivo livrar-nos do pecado. O jejum fortalece o espírito e a vontade para que as paixões desordenadas (gula, ira, inveja, soberba, ganância, luxúria, preguiça) não dominem a nossa vida e a nossa conduta.
A oração fortalece a alma no combate contra o pecado. Jesus ensinou: “É necessário orar sempre sem jamais deixar de fazê-lo” (Lc 18,1b); “Vigiai e orai para que não entreis em tentação” (Mt 26,41a); “Pedi e se vos dará” (Mt 7,7). E São Paulo recomendou: “Orai sem cessar” (I Ts 5,17).
A Palavra de Deus nos ensina: “É boa a oração acompanhada do jejum e dar esmola vale mais do que juntar tesouros de ouro, porque a esmola livra da morte, e é a que apaga os pecados, e faz encontrar a misericórdia e a vida eterna” (Tb 12, 8-9).
“A água apaga o fogo ardente, e a esmola resiste aos pecados” (Eclo 3,33). “Encerra a esmola no seio do pobre, e ela rogará por ti para te livrar de todo o mal” (Eclo 29,15).
Então, cada um deve fazer na Quaresma um “programa” espiritual: fazer o jejum que consegue (cada um é diferente do outro); pode ser parcial ou total. Pode, por exemplo, deixar de ver a TV, deixar de ir a uma festa, a uma diversão, não comer uma comida de que gosta ou uma bebida; não dizer uma palavra no momento de raiva ou contrariedade, não falar de si mesmo, dar a vez aos outros na igreja, na fila, no ônibus; ser manso e atencioso com os outros, perdoar a todos, dormir um pouco menos, rezar mais, ir à Santa Missa durante a semana... Enfim, há mil maneiras de fazer boas penitências que nos ajudam a fortalecer o espírito para que ele não fique sufocado e esmagado pelo corpo e pela matéria.
A penitência não é um fim em si mesma; é um meio de purificação e santificação; por isso deve ser feita com alegria.
Assista ao vídeo: O que é a Quaresma?