quarta-feira, 27 de abril de 2011

Dom Odilo Scherer e dom Cláudio Hummes participarão da beatificação de João Paulo II


Os cardeais, dom Odilo Pedro Scherer, arcebispo de São Paulo (SP), e dom Cláudio Hummes, arcebispo emérito de São Paulo e prefeito emérito da Congregação para o Clero no Vaticano, representarão oficialmente a Igreja Católica do Brasil na celebração da beatificação do papa João Paulo II, em 1º de maio.
A pedido da presidência da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Odilo Pedro Scherer representará a entidade, pois, dom Geraldo Lyrio Rocha (Presidente da CNBB), dom Luiz Soares Vieira (Vice-presidente) e dom Dimas Lara Barbosa (Secretário Geral) estarão envolvidos com a organização da 49ª Assembleia da CNBB, que começa no dia 4, em Aparecida (SP).
De acordo com dom Odilo, a beatificação de João Paulo II faz parte do processo de canonização do papa, mas não é a etapa mais importante, assim como a canonização também não é. “O mais importante é o reconhecimento de uma vida santa”, diz.
Dom Cláudio Hummes lembra por sua vez, que cada papa tem suas características: “Cada papa é diferente um do outro. Isso é bom porque enriquece a Igreja. Cada um traz um aspecto novo naquilo que é a missão da Igreja, que é levar a mensagem de Jesus Cristo; e cada um tem respostas diferentes para as novas situações”, destacou.

sábado, 23 de abril de 2011

A Luz da Ressurreição

A comemoração da Ressurreição do Cristo ocorre, desde a mais remota memória da Tradição, na noite de sábadopara domingo, pois na manhã do domingo – o primeiro dia da semana – oSenhor já não está no sepulcro (cf. evangelho Mt 28,1 e par.). Além disto, e não obstante a Páscoa judaica ter outradata (seria a data da Última Ceia), atradição cristã associou a noite da Ressurreição à noite da Páscoa descrita em Ex 12,42, "uma noite de vigília em honra do Senhor". É a noite da libertação. E mais ainda: esta noite ganha o sentido de uma recapitulação do universo, o começo da criação nova e escatológica, pois o Senhor Ressuscitado é a primícia da nova criação. A Ressurreição de Jesus é o penhor da renovação do universo.
Esta liturgia deve falar por si mesma: o mistério da nova luz que surge nas trevas, Cristo que venceu a morte e o pecado. Os fiéis se unem a este mistério, acendendo uma vela na chama do círio pascal, quando de sua entrada triunfal na igreja: é a participação na vida ressuscitada do Senhor. Depois do Exultet, seguem imediatamente as leituras do A.T. (mín. 3, máx. 7) e do N.T. (epístola e evangelho).

Entre as leituras do A.T., a 3ª  é obrigatória, por ser a recordação específica desta noite: a passagem do Mar Vermelho (cf. adiante). Aconselha-se ler a 1ª  leitura (a criação), por causa de seu sentido cósmico e a ligação imediata com o tema da luz na primeira parte da celebração; ela tem como responsório o maravilhoso SI 104[ 103]. Entre a 1ª  leitura e a seguinte reza-se uma oração, que expressa como a re-criação em Cristo supera ainda a criação inicial. A 2ª  leitura oferecida pelo Lecionário vê na vocação e obediência de Abraão (sacrifício de Isaac) o início da vocação universal à salvação; a oração resume este sentido. A 3ª  leitura (noite pascal e libertação do Egito, Ex 14) é obrigatória. Termina no anúncio do cântico de vitória (Ex 15,1); portanto, é normal que este "cântico de Moisés e Míriam (Maria)" seja também cantado ou, pelo menos, declamado (3° responsório, Ex 15). A 4ª  leitura é uma palavra de consolação a Israel no Exílio (Is 54); a 5ª  é o convite para o banquete messiânico, em Is 55; a 6ª  apresenta a Sabedoria que reina sobre o cosmo e a grandeza do único Deus (Br 3-4); a 7ª  (Ez 36) anuncia a reunião escatológica dos filhos dispersos de Israel, também entendida como início de uma nova era; esta leitura é concluída pelo SI 42-43[41-42] ("as águas vivas") ou, à escolha, pelo SI 51[50], segunda parte (dom de um coração novo). Estas leituras formam, por seu conteúdo e simbolismo, uma catequese batismal. Seria interessante organizar, por exemplo, no Sábado Santo, uma celebração ou círculo bíblico com estas leituras, para os que se querem preparar mais conscientemente para a renovação do compromisso batismal durante a noite pascal.

Depois das leituras do A.T., acompanhadas de seus respectivos responsórios e orações, entoa-se o Glória, vitorioso, com acompanhamento de instrumentos e sinos. Segue a oração do dia, que alude à celebração batismal, que tradicionalmente ocorre nesta noite e em função da qual é concebida também a 8ª  leitura, tirada do N.T. (Rrn 6,3-11). Esta compara o batismo com a descida no sepulcro, para que daí os fiéis co-ressuscitem com o Cristo; o homem antigo é crucificado, revestimo-nos do homem novo; pecado e morte já não reinam sobre nós.

Nesta altura, a liturgia faz uma espécie de pausa, para que o presidente da celebração entoe, solenemente, o Aleluia pascal, repetido pelos fiéis, e isto, três vezes. Depois disso, o cantor ou coro entoa a aclamação ao evangelho: "A destra do Senhor fez maravilhas, a destra do Senhor me levantou ... A pedra rejeitada pelos construtores tornou-se pedra angular". O evangelho narra o episódio do túmulo vazio. É específico de Mt o final da narração, a aparição de Jesus ressuscitado às mulheres, que são mandadas para anunciar a ressurreição aos irmãos.

A terceira parte inicia com a ladainha de todos os santos (suprimida quando não há batizado nem bênção da água batismal). Segue a bênção da água, na qual é submergido o círio pascal, simbolizando a descida de Cristo no sepulcro e sua ressurreição, ou seja, o mesmo simbolismo batismal que Paulo desenvolve na leitura que acaba de ser proferida (Rm 6,3ss). Segue a administração do batismo e a bênção da água que os fiéis queiram levar para casa como uma espécie de extensão do rito batismal. Por fim,  renova-se o compromisso batismal, depois do que a liturgia prevê a solene aspersão dos fiéis com água benta, cantando-se o tradicional responsório Vidi Aquam.

A quarta parte, a liturgia eucarística, destaca a ideia de Cristo Cordeiro pascal (oração sobre as oferendas, prefácio da Páscoa I, canto da comunhão). A tipologia batismal desaparece, dando lugar à ideia sacrifical. Contudo, só há participação na doação sacrifical do Cristo, onde houver a participação da fé, assinalada pelo batismo.


Do livro "Liturgia Dominical", de Johan Konings, SJ, Editora Vozes


Fonte:http://www.franciscanos.org.br/v3/vidacrista/liturgia/liturgiadominical/2011/abril/230411b.php

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Aceitar e imitar a doação do Cristo

Terminada a Quaresma, com o Tríduo Sacro inicia-se a celebração pascal, pois a morte e ressurreição de Jesus Constituem uma unidade.Hoje, na Quinta-feira Santa, celebramos um “adeus”: a despedida de alguém que vai para o Pai (Jo 13,1; evangelho), mas que, ao mesmo tempo, deixa uma profunda nostalgia, sobretudo por causa do modo comoessa despedida será levada ao termo, na noite seguinte. Daí o espírito bem particular desta celebração: alegria, até jubilosa – o Glória (que não ressoará mais até a noite pascal). Mas é uma alegria em tom menor, misturada com lágrimas, uma alegria reticente, inibida. E a única liturgia do ano, em  que se canta o Glória, sem que se cante o Aleluia! Esta liturgia reflete bem o espírito dos fiéis diante dos últimos acontecimentos de Jesus. Eles sabem o que os Apóstolos naquela noite não sabiam: que Jesus está percorrendo seu caminho até a glória. Ao mesmo tempo, porém, sentem profundamente a dor desta noite de traição e aflição. Essa dupla consciência de catástrofe e de glória é o núcleo dos capítulos que S. João consagra à despedida de Jesus (Jo 13-17) e dos quais nós escutamos, nesta tarde, o início (evangelho). Esta consciência ficou clara para os cristãos, depois da Páscoa, graças à obra do Espírito Santo. Por isso, a despedida de Jesus volta também a ser lida nos evangelhos depois da Páscoa, que, em muitos pontos, se parecem com a celebração de hoje. Resumindo: contemplamos hoje o Servo Padecente, o homem das dores - mas com os olhos iluminados pela Páscoa. É esta a visão sobre Jesus que S. João nos ensina.


Apresenta-se a nós o “exemplo” da doação da vida que Jesus mostrou aos Apóstolos no começo da Ceia, lavando-lhes os pés. Com isso, ele deu a entender que ele é o Servo, que se humilha e carrega sobre si os pecados dos homens (tema da purificação, Jo 13,10). E quem não aceitar este serviço - veja a reação de Pedro - não pode ter comunhão com ele (13,8). Quem não aceita Jesus como o Servo que dá sua vida pelos seus irmãos, não tem parte na salvação que ele traz. Assumir na fé e na prática da vida o exemplo de Jesus (13,15), eis o verdadeiro sentido da “comunhão”, que é: participação na salvação efetivada por Jesus. Assim, a narração do lava-pés mostra por um exemplo o que significam as palavras de Jesus repetidas na oração eucarística: “Isto é o meu corpo, dado por vós... Este é o cálice do meu sangue... que é derramado por vós e por todos, para o perdão dos pecados...” E explica também o sentido profundo por que chamamos este rito de “comunhão”, isto é, participação com Cristo. A 2ª leitura nos apresenta o mais antigo testemunho da celebração eucarística, transmitida pelo apóstolo Paulo: o corpo e sangue de Jesus dados por nós .

A 1ª  leitura fornece o fundo histórico para situar a Última Ceia como refeição pascal na vida de Jesus e nas raízes 
judaicas da liturgia cristã. Conta a instituição da refeição do cordeiro pascal no antigo judaísmo, com o sentido salvífico que Israel aí reconhece: a libertação da escravidão. O salmo responsorial é um canto que os sacerdotes entoavam ao levantar o cálice da bênção, gesto retomado por Jesus na Última Ceia. O canto da entrada marca, desde o início, o retido júbilo desta celebração, citando as palavras de Paulo aos Coríntios: “Convém gloriarmos... na Cruz do Senhor Jesus Cristo”. Mas para respirar plenamente o espírito desta liturgia convém considerar também as antífonas e responsórios do Lava-pés (sobretudo In Hoc Cognoscent Omnes e Mandatum Novum), bem como a belíssima seqüência da comunhão, Ubi Caritas e Amor. De todos esses cantos existem boas adaptações em nossa língua. Esta liturgia deve fazer penetrar em nós, por seu rito e pela palavra que o explica, o sentido salvífico da Cruz de Cristo, no sentido de que o cristão, aceitando o esvaziamento de Jesus por nós e associando-se a seu modo de viver e morrer, entra na comunhão eterna com ele e com o Pai.

Do livro "Liturgia Dominical", de Johan Konings, SJ, Editora Vozes

quarta-feira, 20 de abril de 2011

DECRETO ACERCA DO CULTO LITÚRGICO A CONCEDER EM HONRA DO BEATO JOÃO PAULO II, PAPA



A beatificação do Venerável João Paulo II, de feliz memória, que se realizará a 1 de Maio de 2011 na Basílica de São Pedro em Roma, presidida pelo Santo Padre Bento xvi, reveste um carácter de excepcionalidade, reconhecido por toda a Igreja católica espalhada na terra. Desejada tal extraordinariedade, depois de numerosas solicitações acerca do culto litúrgico em honra do novo Beato, segundo os lugares e os modos estabelecidos pelo direito, esta Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos apressa-se em comunicar quanto disposto a propósito.
Missa de acção de graças
Estabelece-se que durante o ano seguinte ao da beatificação de João Paulo II, isto é, até 1 de Maio de 2012, seja possível celebrar uma santa Missa de acção de graças em lugares e dias significativos. A responsabilidade de estabelecer o dia ou os dias, assim como o lugar ou os lugares da reunião do povo de Deus, compete ao Bispo diocesano para a sua diocese. Consideradas as exigências locais e as conveniências pastorais, concede-se que se possa celebrar uma santa Missa em honra do novo Beato num domingo durante o ano como também num dia incluído nos nn. 10-13 da Tabela dos dias litúrgicos.
Analogamente, para as famílias religiosas compete ao Superior-Geral oferecer indicações acerca dos dias e lugares significativos para a inteira família religiosa.
Para a santa Missa, com possibilidade de cantar o Gloria, reza-se a colecta própria em honra do Beato (ver anexo); as outras orações, o prefácio, as antífonas e as leituras bíblicas são tiradas do Comum dos pastores, para um papa. Repete-se um domingo durante o ano, para as leituras bíblicas poder-se-ão escolher textos adequados do Comum dos pastores para a primeira leitura, com o relativo Salmo responsorial, e para o Evangelho.
Inscrição do novo Beato nos Calendários particulares
Estabelece-se que no Calendário próprio da diocese de Roma e das dioceses da Polónia a celebração do Beato João Paulo II, Papa, seja inscrita a 22 de Outubro e celebrada todos os anos como memória.
Sobre os textos litúrgicos concedem-se como próprios a oração da colecta e a segunda leitura do Ofício das leituras, com o relativo responsório (ver anexo). Os outros textos serão tirados do Comum dos pastores, para um papa.
Quanto aos outros Calendários próprios, o pedido de inscrição da memória facultativa do Beato João Paulo II poderá ser apresentado a esta Congregação pelas Conferências dos Bispos para o seu território, pelo Bispo diocesano para a sua diocese, pelo Superior-Geral para a sua família religiosa.
Dedicação de uma igreja a Deus em honra do novo Beato
A escolha do Beato João Paulo II como titular de uma igreja prevê o indulto da Sé Apostólica (cf. Ordo dedicationis ecclesiae, Praenotanda n. 4), excepto quando a sua celebração já está inscrita no Calendário particular: neste caso não é solicitado o indulto e ao Beato, na igreja em que é titular, é reservado em grau de festa (cf. Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, Notificatio de cultu Beatorum, 21 de Maio de 1999, n. 9).
Não obstante qualquer coisa em contrário.
Da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, 2 de Abril de 2011.

(Antonius Card. Cañizares Llovera)
Praefectus

(+ Iosephus Augustinus Di Noia, OP)
Archiepiscopus a Secretis

terça-feira, 19 de abril de 2011



MENSAGEM DO PAPA BENTO XVI
PARA A XXVI JORNADA MUNDIAL DA JUVENTUDE 

2011 
 «Enraizados e edificados n’Ele... firmes na fé» (cf. Cl 2, 7).

Queridos amigos!
Penso com frequência na Jornada Mundial da Juventude de Sidney de 2008. Lá vivemos uma grande festa da fé, durante a qual o Espírito de Deus agiu com força, criando uma comunhão intensa entre os participantes, que vieram de todas as partes do mundo. Aquele encontro, assim como os precedentes, deu frutos abundantes na vida de numerosos jovens e de toda a Igreja. Agora, o nosso olhar dirige-se para a próxima Jornada Mundial da Juventude, que terá lugar emMadrid em Agosto de 2011. Já em 1989, poucos meses antes da histórica derrocada do Muro de Berlim, a peregrinação dos jovens fez etapa na Espanha, em Santiago de Compostela. Agora, num momento em que a Europa tem grande necessidade de reencontrar as suas raízes cristãs, marcamos encontro em Madrid, com o tema: «Enraizados e edificados em Cristo... firmes na fé» (cf. Cl 2, 7). Por conseguinte, convido-vos para este encontro tão importante para a Igreja na Europa e para a Igreja universal. E gostaria que todos os jovens, quer os que compartilham a nossa fé em Jesus Cristo, quer todos os que hesitam, que estão na dúvida ou não crêem n’Ele, possam viver esta experiência, que pode ser decisiva para a vida: a experiência do Senhor Jesus ressuscitado e vivo e do seu amor por todos nós.
Na nascente das vossas maiores aspirações!
1. Em todas as épocas, também nos nossos dias, numerosos jovens sentem o desejo profundo de que as relações entre as pessoas sejam vividas na verdade e na solidariedade. Muitos manifestam a aspiração por construir relacionamentos de amizade autêntica, por conhecer o verdadeiro amor, por fundar uma família unida, por alcançar uma estabilidade pessoal e uma segurança real, que possam garantir um futuro sereno e feliz. Certamente, recordando a minha juventude, sei que estabilidade e segurança não são as questões que ocupam mais a mente dos jovens. Sim, a procura de um posto de trabalho e com ele poder ter uma certeza é um problema grande e urgente, mas ao mesmo tempo a juventude permanece contudo a idade na qual se está em busca da vida maior. Se penso nos meus anos de então: simplesmente não nos queríamos perder na normalidade da vida burguesa. Queríamos o que é grande, novo. Queríamos encontrar a própria vida na sua vastidão e beleza. Certamente, isto dependia também da nossa situação. Durante a ditadura nacional-socialista e durante a guerra nós fomos, por assim dizer, «aprisionados» pelo poder dominante. Por conseguinte, queríamos sair fora para entrar na amplidão das possibilidades do ser homem. Mas penso que, num certo sentido, todas as gerações sentem este impulso de ir além do habitual. Faz parte do ser jovem desejar algo mais do que a vida quotidiana regular de um emprego seguro e sentir o anseio pelo que é realmente grande. Trata-se apenas de um sonho vazio que esvaece quando nos tornamos adultos? Não, o homem é verdadeiramente criado para aquilo que é grande, para o infinito. Qualquer outra coisa é insuficiente. Santo Agostinho tinha razão: o nosso coração está inquieto enquanto não repousar em Ti. O desejo da vida maior é um sinal do facto que foi Ele quem nos criou, de que temos a Sua «marca». Deus é vida, e por isso todas as criaturas tendem para a vida; de maneira única e especial a pessoa humana, feita à imagem de Deus, aspira pelo amor, pela alegria e pela paz. Compreendemos então que é um contra-senso pretender eliminar Deus para fazer viver o homem! Deus é a fonte da vida; eliminá-lo equivale a separar-se desta fonte e, inevitavelmente, a privar-se da plenitude e da alegria: «De facto, sem o Criador a criatura esvaece» (Conc. Ecum. Vat. II, Const. Gaudium et spes, 36). A cultura actual, nalgumas áreas do mundo, sobretudo no Ocidente, tende a excluir Deus, ou a considerar a fé como um facto privado, sem qualquer relevância para a vida social. Mas o conjunto de valores que estão na base da sociedade provém do Evangelho — como o sentido da dignidade da pessoa, da solidariedade, do trabalho e da família — constata-se uma espécie de «eclipse de Deus», uma certa amnésia, ou até uma verdadeira rejeição do Cristianismo e uma negação do tesouro da fé recebida, com o risco de perder a própria identidade profunda.
Por este motivo, queridos amigos, convido-vos a intensificar o vosso caminho de fé em Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. Vós sois o futuro da sociedade e da Igreja! Como escrevia o apóstolo Paulo aos cristãos da cidade de Colossos, é vital ter raízes, bases sólidas! E isto é particularmente verdadeiro hoje, quando muitos não têm pontos de referência estáveis para construir a sua vida, tornando-se assim profundamente inseguros. O relativismo difundido, segundo o qual tudo equivale e não existe verdade alguma, nem qualquer ponto de referência absoluto, não gera a verdadeira liberdade, mas instabilidade, desorientação, conformismo às modas do momento. Vós jovens tendes direito de receber das gerações que vos precedem pontos firmes para fazer as vossas opções e construir a vossa vida, do mesmo modo como uma jovem planta precisa de um sólido apoio para que as raízes cresçam, para se tornar depois uma árvore robusta, capaz de dar fruto.
Enraizados e fundados em Cristo
2. Para ressaltar a importância da fé na vida dos crentes, gostaria de me deter sobre cada uma das três palavras que São Paulo usa nesta sua expressão: «Enraizados e fundados em Cristo... firmes na fé» (cf. Cl 2, 7). Nela podemos ver três imagens: «enraizado» recorda a árvore e as raízes que a alimentam; «fundado» refere-se à construção de uma casa; «firme» evoca o crescimento da força física e moral. Trata-se de imagens muito eloquentes. Antes de as comentar, deve-se observar simplesmente que no texto original as três palavras, sob o ponto de vista gramatical, estão no passivo: isto significa que é o próprio Cristo quem toma a iniciativa de radicar, fundar e tornar firmes os crentes.
A primeira imagem é a da árvore, firmemente plantada no solo através das raízes, que a tornam estável e a alimentam. Sem raízes, seria arrastada pelo vento e morreria. Quais são as nossas raízes? Naturalmente, os pais, a família e a cultura do nosso país, que são uma componente muito importante da nossa identidade. A Bíblia revela outra. O profeta Jeremias escreve: «Bendito o homem que deposita a confiança no Senhor, e cuja esperança é o Senhor. É como a árvore plantada perto da água, a qual estende as raízes para a corrente; não teme quando vem o calor, a sua folhagem fica sempre verdejante. Não a inquieta a seca de um ano; continua a produzir frutos» (Jr 17, 7-8). Estender as raízes, para o profeta, significa ter confiança em Deus. D’Ele obtemos a nossa vida; sem Ele não poderíamos viver verdadeiramente. «Deus deu-nos a vida eterna, e esta vida está em Seu Filho» (1 Jo 5, 11). O próprio Jesus apresenta-se como nossa vida (cf. Jo 14, 6). Por isso a fé cristã não é só crer em verdades, mas é antes de tudo uma relação pessoal com Jesus Cristo, é o encontro com o Filho de Deus, que dá a toda a existência um novo dinamismo. Quando entramos em relação pessoal com Ele, Cristo revela-nos a nossa identidade e, na sua amizade, a vida cresce e realiza-se em plenitude. Há um momento, quando somos jovens, em que cada um de nós se pergunta: que sentido tem a minha vida, que finalidade, que orientação lhe devo dar? É uma fase fundamental, que pode perturbar o ânimo, às vezes também por muito tempo. Pensa-se no tipo de trabalho a empreender, quais relações sociais estabelecer, que afectos desenvolver... Neste contexto, penso de novo na minha juventude. De certa forma muito cedo tive a consciência de que o Senhor me queria sacerdote. Mais tarde, depois da Guerra, quando no seminário e na universidade eu estava a caminho para esta meta, tive que reconquistar esta certeza. Tive que me perguntar: é este verdadeiramente o meu caminho? É deveras esta a vontade do Senhor para mim? Serei capaz de Lhe permanecer fiel e de estar totalmente disponível para Ele, ao Seu serviço? Uma decisão como esta deve ser também sofrida. Não pode ser de outra forma. Mas depois surgiu a certeza: é bem assim! Sim, o Senhor quer-me, por isso também me dará a força. Ao ouvi-Lo, ao caminhar juntamente com Ele torno-me deveras eu mesmo. Não conta a realização dos meus próprios desejos, mas a Sua vontade. Assim a vida torna-se autêntica.
Tal como as raízes da árvore a mantêm firmemente plantada na terra, também os fundamentos dão à casa uma estabilidade duradoura. Mediante a fé, nós somos fundados em Cristo (cf. Cl 2, 7), como uma casa é construída sobre os fundamentos. Na história sagrada temos numerosos exemplos de santos que edificaram a sua vida sobre a Palavra de Deus. O primeiro foi Abraão. O nosso pai na fé obedeceu a Deus que lhe pedia para deixar a casa paterna a fim de se encaminhar para uma terra desconhecida. «Abraão acreditou em Deus e isso foi-lhe atribuído à conta de justiça e foi chamado amigo de Deus» (Tg 2, 23). Estar fundados em Cristo significa responder concretamente à chamada de Deus, confiando n’Ele e pondo em prática a sua Palavra. O próprio Jesus admoesta os seus discípulos: «Porque me chamais: “Senhor, Senhor” e não fazeis o que Eu digo?» (Lc 6, 46). E, recorrendo à imagem da construção da casa, acrescenta: «todo aquele que vem ter Comigo, escuta as Minhas palavras e as põe em prática, é semelhante a um homem que construiu uma casa: Cavou, aprofundou e assentou os alicerces sobre a rocha. Sobreveio a inundação, a torrente arremessou-se com violência contra aquela casa e não pôde abalá-la por ter sido bem construída» (Lc 6, 47-48).
Queridos amigos, construí a vossa casa sobre a rocha, como o homem que «cavou muito profundamente». Procurai também vós, todos os dias, seguir a Palavra de Cristo. Senti-O como o verdadeiro Amigo com o qual partilhar o caminho da vossa vida. Com Ele ao vosso lado sereis capazes de enfrentar com coragem e esperança as dificuldades, os problemas, também as desilusões e as derrotas. São-vos apresentadas continuamente propostas mais fáceis, mas vós mesmos vos apercebeis que se revelam enganadoras, que não vos dão serenidade e alegria. Só a Palavra de Deus nos indica o caminho autêntico, só a fé que nos foi transmitida é a luz que ilumina o caminho. Acolhei com gratidão este dom espiritual que recebestes das vossas famílias e comprometei-vos a responder com responsabilidade à chamada de Deus, tornando-vos adultos na fé. Não acrediteis em quantos vos dizem que não tendes necessidade dos outros para construir a vossa vida! Ao contrário, apoiai-vos na fé dos vossos familiares, na fé da Igreja, e agradecei ao Senhor por a ter recebido e feito vossa!
Firmes na fé
3. «Enraizados e fundados em Cristo... firmes na fé» (cf. Cl 2, 7). A Carta da qual é tirado este convite, foi escrita por São Paulo para responder a uma necessidade precisa dos cristãos da cidade de Colossos. Com efeito, aquela comunidade estava ameaçada pela influência de determinadas tendências culturais da época, que afastavam os fiéis do Evangelho. O nosso contexto cultural, queridos jovens, tem numerosas analogias com o tempo dos Colossenses daquela época. De facto, há uma forte corrente de pensamento laicista que pretende marginalizar Deus da vida das pessoas e da sociedade, perspectivando e tentando criar um «paraíso» sem Ele. Mas a experiência ensina que o mundo sem Deus se torna um «inferno»: prevalecem os egoísmos, as divisões nas famílias, o ódio entre as pessoas e entre os povos, a falta de amor, de alegria e de esperança. Ao contrário, onde as pessoas e os povos acolhem a presença de Deus, o adoram na verdade e ouvem a sua voz, constrói-se concretamente a civilização do amor, na qual todos são respeitados na sua dignidade, cresce a comunhão, com os frutos que ela dá. Contudo existem cristãos que se deixam seduzir pelo modo de pensar laicista, ou são atraídos por correntes religiosas que afastam da fé em Jesus Cristo. Outros, sem aderir a estas chamadas, simplesmente deixaram esmorecer a sua fé, com inevitáveis consequências negativas a nível moral.
Aos irmãos contagiados por ideias alheias ao Evangelho, o apóstolo Paulo recorda o poder de Cristo morto e ressuscitado. Este mistério é o fundamento da nossa vida, o centro da fé cristã. Todas as filosofias que o ignoram, que o consideram «escândalo» (1 Cor 1, 23), mostram os seus limites diante das grandes perguntas que habitam o coração do homem. Por isso também eu, como Sucessor do apóstolo Pedro, desejo confirmar-vos na fé (cf. Lc 22, 32). Nós cremos firmemente que Jesus Cristo se ofereceu na Cruz para nos doar o seu amor; na sua paixão, carregou os nossos sofrimentos, assumiu sobre si os nossos pecados, obteve-nos o perdão e reconciliou-nos com Deus Pai, abrindo-nos o caminho da vida eterna. Deste modo fomos libertados do que mais entrava a nossa vida: a escravidão do pecado, e podemos amar a todos, até os inimigos, e partilhar este amor com os irmãos mais pobres e em dificuldade.
Queridos amigos, muitas vezes a Cruz assusta-nos, porque parece ser a negação da vida. Na realidade, é o contrário! Ela é o «sim» de Deus ao homem, a expressão máxima do seu amor e a nascente da qual brota a vida eterna. De facto, do coração aberto de Jesus na cruz brotou esta vida divina, sempre disponível para quem aceita erguer os olhos para o Crucificado. Portanto, não posso deixar de vos convidar a aceitar a Cruz de Jesus, sinal do amor de Deus, como fonte de vida nova. Fora de Cristo morto e ressuscitado, não há salvação! Só Ele pode libertar o mundo do mal e fazer crescer o Reino de justiça, de paz e de amor pelo qual todos aspiram.
Crer em Jesus Cristo sem o ver
4. No Evangelho é-nos descrita a experiência de fé do apóstolo Tomé ao acolher o mistério da Cruz e da Ressurreição de Cristo. Tomé faz parte dos Doze apóstolos; seguiu Jesus; foi testemunha directa das suas curas, dos milagres; ouviu as suas palavras; viveu a desorientação perante a sua morte. Na noite de Páscoa o Senhor apareceu aos discípulos, mas Tomé não estava presente, e quando lhe foi contado que Jesus estava vivo e se mostrou, declarou: «Se eu não vir o sinal dos cravos nas Suas mãos, se não meter o dedo no lugar dos cravos e não meter a mão no Seu lado, não acreditarei» (Jo 20, 25).
Também nós gostaríamos de poder ver Jesus, de poder falar com Ele, de sentir ainda mais forte a sua presença. Hoje para muitos, o acesso a Jesus tornou-se difícil. Circulam tantas imagens de Jesus que se fazem passar por científicas e O privam da sua grandeza, da singularidade da Sua pessoa. Portanto, durante longos anos de estudo e meditação, maturou em mim o pensamento de transmitir um pouco do meu encontro pessoal com Jesus num livro: quase para ajudar a ver, a ouvir, a tocar o Senhor, no qual Deus veio ao nosso encontro para se dar a conhecer. De facto, o próprio Jesus aparecendo de novo aos discípulos depois de oito dias, diz a Tomé: «Chega aqui o teu dedo e vê as Minhas mãos; aproxima a tua mão e mete-a no Meu lado; e não sejas incrédulo, mas crente» (Jo 20, 27). Também nós temos a possibilidade de ter um contacto sensível com Jesus, meter, por assim dizer, a mão nos sinais da sua Paixão, os sinais do seu amor: nos Sacramentos Ele torna-se particularmente próximo de nós, doa-se a nós. Queridos jovens, aprendei a «ver», a «encontrar» Jesus na Eucaristia, onde está presente e próximo até se fazer alimento para o nosso caminho; no Sacramento da Penitência, no qual o Senhor manifesta a sua misericórdia ao oferecer-nos sempre o seu perdão. Reconhecei e servi Jesus também nos pobres, nos doentes, nos irmãos que estão em dificuldade e precisam de ajuda.
Abri e cultivai um diálogo pessoal com Jesus Cristo, na fé. Conhecei-o mediante a leitura dos Evangelhos e do Catecismo da Igreja Católica; entrai em diálogo com Ele na oração, dai-lhe a vossa confiança: ele nunca a trairá! «Antes de mais, a fé é uma adesão pessoal do homem a Deus. Ao mesmo tempo, e inseparavelmente, é o assentimento livre a toda a verdade revelada por Deus» (Catecismo da Igreja Católica, n. 150). Assim podereis adquirir uma fé madura, sólida, que não estará unicamente fundada num sentimento religioso ou numa vaga recordação da catequese da vossa infância. Podereis conhecer Deus e viver autenticamente d’Ele, como o apóstolo Tomé, quando manifesta com força a sua fé em Jesus: «Meu Senhor e meu Deus!».
Amparados pela fé da Igreja para ser testemunhas
5. Naquele momento Jesus exclama: «Porque Me viste, acreditaste. Bem-aventurados os que, sem terem visto, acreditaram!» (Jo 20, 29). Ele pensa no caminho da Igreja, fundada sobre a fé das testemunhas oculares: os Apóstolos. Compreendemos então que a nossa fé pessoal em Cristo, nascida do diálogo com Ele, está ligada à fé da Igreja: não somos crentes isolados, mas, pelo Baptismo, somos membros desta grande família, e é a fé professada pela Igreja que dá segurança à nossa fé pessoal. O credo que proclamamos na Missa dominical protege-nos precisamente do perigo de crer num Deus que não é o que Jesus nos revelou: «Cada crente é, assim, um elo na grande cadeia dos crentes. Não posso crer sem ser motivado pela fé dos outros, e pela minha fé contribuo também para guiar os outros na fé» (Catecismo da Igreja Católica, n. 166). Agradeçamos sempre ao Senhor pelo dom da Igreja; ela faz-nos progredir com segurança na fé, que nos dá a vida verdadeira (cf. Jo 20, 31).
Na história da Igreja, os santos e os mártires hauriram da Cruz gloriosa de Cristo a força para serem fiéis a Deus até à doação de si mesmos; na fé encontraram a força para vencer as próprias debilidades e superar qualquer adversidade. De facto, como diz o apóstolo João, «Quem é que vence o mundo senão aquele que crê que Jesus é Filho de Deus?» (1 Jo 5, 5). E a vitória que nasce da fé é a do amor. Quantos cristãos foram e são um testemunho vivo da força da fé que se exprime na caridade; foram artífices de paz, promotores de justiça, animadores de um mundo mais humano, um mundo segundo Deus; comprometeram-se nos vários âmbitos da vida social, com competência e profissionalidade, contribuindo de modo eficaz para o bem de todos. A caridade que brota da fé levou-os a dar um testemunho muito concreto, nas acções e nas palavras: Cristo não é um bem só para nós próprios, é o bem mais precioso que temos para partilhar com os outros. Na era da globalização, sede testemunhas da esperança cristã em todo o mundo: são muitos os que desejam receber esta esperança! Diante do sepulcro do amigo Lázaro, morto havia quatro dias, Jesus, antes de o chamar de novo à vida, disse à sua irmã Marta: «Se acreditasses, verias a glória de Deus» (cf. Jo 11, 40). Também vós, se acreditardes, se souberdes viver e testemunhar a vossa fé todos os dias, tornar-vos-eis instrumentos para fazer reencontrar a outros jovens como vós o sentido e a alegria da vida, que nasce do encontro com Cristo!
Rumo à Jornada Mundial de Madrid
6. Queridos amigos, renovo-vos o convite a ir à Jornada Mundial da Juventude a Madrid. É com profunda alegria que espero cada um de vós pessoalmente: Cristo quer tornar-vos firmes na fé através a Igreja. A opção de crer em Cristo e de O seguir não é fácil; é dificultada pelas nossas infidelidades pessoais e por tantas vozes que indicam caminhos mais fáceis. Não vos deixeis desencorajar, procurai antes o apoio da Comunidade cristã, o apoio da Igreja! Ao longo deste ano preparai-vos intensamente para o encontro de Madrid com os vossos Bispos, os vossos sacerdotes e os responsáveis da pastoral juvenil nas dioceses, nas comunidades paroquiais, nas associações e nos movimentos. A qualidade do nosso encontro dependerá sobretudo da preparação espiritual, da oração, da escuta comum da Palavra de Deus e do apoio recíproco.
Amados jovens, a Igreja conta convosco! Precisa da vossa fé viva, da vossa caridade e do dinamismo da vossa esperança. A vossa presença renova a Igreja, rejuvenesce-a e confere-lhe renovado impulso. Por isso as Jornadas Mundiais da Juventude são uma graça não só para vós, mas para todo o Povo de Deus. A Igreja na Espanha está a preparar-se activamente para vos receber e para viver juntos a experiência jubilosa da fé. Agradeço às dioceses, às paróquias, aos santuários, às comunidades religiosas, às associações e aos movimentos eclesiais, que trabalham com generosidade na preparação deste acontecimento. O Senhor não deixará de os abençoar. A Virgem Maria acompanhe este caminho de preparação. Ela, ao anúncio do Anjo, acolheu com fé a Palavra de Deus; com fé consentiu a obra que Deus estava a realizar nela. Pronunciando o seu «fiat», o seu «sim», recebeu o dom de uma caridade imensa, que a levou a doar-se totalmente a Deus. Interceda por cada um e cada uma de vós, para que na próxima Jornada Mundial possais crescer na fé e no amor. Garanto-vos a minha recordação paterna na oração e abençoo-vos de coração.
Vaticano, 6 de Agosto de 2010, Festa da Transfiguração do Senhor.

BENEDICTUS PP. XVI

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Fonte:www.vatican.va

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Seja Crucificado

Dom Pedro José Conti

Bispo de Macapá - AP

A Semana Santa inicia com o relato da entrada de Jesus em Jerusalém. As multidões gritavam: ”Hosana ao Filho de Davi! Bendito o que vem em nome do Senhor! Hosana no mais alto dos céus!“. Tudo parece bonito. Um verdadeiro triunfo. Não foi bem assim. Alguns dias depois o povo que o reconheceu como “o profeta Jesus, de Nazaré da Galileia”, não hesita em gritar também contra ele: “Seja crucificado!”.

Por isso a liturgia do Domingo de Ramos nos oferece, no mesmo dia, também a leitura da Paixão do Senhor; este ano segundo o evangelista Mateus. Dessa forma a figura de Jesus crucificado se destaca, acima de tudo e de todos, nestes dias. Levantamos os olhos para a cruz e, mais ainda, para aquele que lá morre entre atrozes tormentos. Assim, o símbolo da morte vergonhosa se transforma em “árvore da vida”. O sinal da vergonha, do sofrimento e da crueldade humana se torna sinal de vitória, perdão e reconciliação. É Jesus, aquele que morre na cruz, que faz da maior derrota o momento culminante da grandeza e da gratuidade do amor de Deus.

Hoje muitos querem esconder a cruz de Jesus, esquecê-la, reduzi-la a uma crença particular, de mau gosto, inclusive, por apresentar um homem despido na hora da agonia e da morte. Mas por que ter medo da cruz e do crucificado? Não foi calada para sempre a sua voz? Não foi. Por isso o sinal da fé cristã continua incomodando: mais do que as nossas palavras e, felizmente, muito mais do que a nossa incapacidade e incoerência em viver tudo o que Ele fez e ensinou.

A cruz sempre será sinal de vergonha, para o condenado, pensavam os juízes. De fato a vergonha ficou para eles, por causa de um processo de cartas marcadas, onde tudo foi falso desde as testemunhas, até as acusações. Uma vida julgada como algo que não valia nada, mais para amedrontar do que para fazer justiça. É o sofrimento inocente que chama atenção. A dor de quem paga por aquilo que não fez, pelos preconceitos, pelo medo dos grandes de perder a posição, o poder e os privilégios. Assim Jesus é mais um daqueles - homens, mulheres e crianças, pobres e esquecidos - que podem morrer, porque não fazem falta numa sociedade onde vale o poder aquisitivo, a posição social, as amizades importantes, os relacionamentos de alto nível. Fácil acabar com quem não pode se defender. Fácil esquecer quem já era ignorado. Fácil dispersar alguns fanáticos fujões e algumas mulheres choronas! Tudo vai passar. No entanto, eles, os juízes, foram esquecidos, Jesus não.

A cruz é também sinal de amor e vitória. Jesus paga com a sua própria vida não o mal que fez, mas o bem. Morre por ter desobedecido a uma lei desumana, porque não teve medo de curar em dia de sábado os que estavam presos na doença. Morre por ter perdoado e ensinado a perdoar os pecados das prostitutas e dos cobradores de impostos, daqueles que já estavam condenados pela falsa moral dos que se consideravam justos e, portanto, na condição de julgar os outros. Para Jesus não tem ovelha perdida que não possa ser resgatada e amada novamente. Ele morre por ter revelado o rosto verdadeiro de Deus Pai, rico em misericórdia e compaixão. Morre por ter ensinado aos seus amigos a buscar o último lugar, a servir e não a serem servidos; a doar sem exigir reconhecimento; a dar tudo, até a própria vida, porque não tem amor maior do que esse. O exemplo de Jesus é a sua vitória. A vitória da fidelidade sobre a traição, da humildade sobre a arrogância, da obediência por amor sobre o individualismo egoísta; a vitória de uma vida renovada sobre a morte de sempre.

Lembramos as palavras esclarecedoras dos padres do Concílio Vaticano II: “... se bem que os principais dos Judeus, com seus seguidores, insistiram na morte de Cristo, aquilo, contudo, que se perpetrou na sua Paixão não pode indistintamente ser imputado a todos os judeus que então viviam, nem aos de hoje... De resto, a Igreja sempre teve e tem por bem ensinar que Cristo por causa dos pecados de todos os homens, sofreu voluntariamente e por imenso amor se sujeitou à morte, para que todos conseguissem a salvação. Cabe, pois, à Igreja pregadora, anunciar a cruz de Cristo como sinal de amor universal de Deus e fonte de toda a graça.” (NE 4). Com esta fé e com estes sentimentos acompanhamos Jesus no caminho do Calvário para encontrá-lo e reconhecê-lo vivo ao amanhecer do dia da Ressurreição!

Fonte:http://www.cnbb.org.br/site/articulistas/dom-pedro-jose-conti/6314-seja-crucificado

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Aberto processo de canonização do Frei Salvador Pinzetta


A diocese de Caxias do Sul (RS) abriu, nesta quarta-feira, 13, o processo de beatificação e canonização do Frei Salvador Pinzetta. O ato de instauração do processo aconteceu no Centro de Formação Católica Domus, em Caxias do Sul. O bispo emérito de Uruguaiana (RS), Dom Ângelo Domingos Salvador, foi designado o postulador da causa.
Frei Salvador Pinzetta, nasceu em 1911, em Casca (RS), e morreu no dia 31 de maio de 1972.  Irmão religioso da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos do Rio Grande do Sul, Frei Salvador desenvolveu a maior parte de seu ministério em Flores da Cunha (RS). A devoção dos fiéis, que lhe atribuem muitos milagres, tornou-se uma romaria.

O postulador da causa de canonização do Frei, Dom Angelo Salvador esclareceu que o primeiro trabalho a ser realizado é o levantamento da documentação da vida do Frei Pinzetta. Em seguida, começa a fase auditiva, quando serão escutados os familiares e pessoas que conviveram com o Frei nas comunidades de Casca e Flores da Cunha. Ainda nesta fase serão ouvidos também os confrades que conviveram com ele. Esta fase é para comprovar a vida cristã, virtudes e santidade do Frei Salvador.
“A segunda fase será averiguar possíveis milagres realizados por Deus pela interseção deste servo de Deus” , acrescentou dom Ângelo.

terça-feira, 12 de abril de 2011

CAPELA QUE ACOLHERÁ CORPO DE JOÃO PAULO II É PREPARADA

CIDADE DO VATICANO, segunda-feira, 11 de abril de 2011 (ZENIT.org) - Na noite de 7 de abril, na Basílica de São Pedro, realizou-se o traslado do corpo do Papa Inocêncio XI (falecido em 1689) da capela de São Sebastião, que acolherá o corpo de João Paulo II após a beatificação.
Durante o rito, presidido pelo cardeal Angelo Comastri, arcipreste da Basílica vaticana, os restos mortais do beato Inocêncio foram levados, em procissão, acompanhada pelas ladainhas dos santos, ao altar da Transfiguração.
O rito concluiu com a oração e a bênção do celebrante e com a leitura do ato que registra a mudança.
A capela de São Sebastião, onde se concluíram as obras de restauro e a renovação da iluminação, acolherá agora o corpo João Paulo II.
O féretro com os restos mortais do Papa Wojtyla será retirado de seu túmulo, na Cripta Vaticana, no dia 29 de abril e colocado a 1º de maio diante do Altar da Confissão, na Basílica de São Pedro, para que os fiéis possam venerá-lo após ser beatificado por Bento XVI.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

PEREGRINOS DA VERDADE, PEREGRINOS DA PAZ

ASSIS - Bento XVI anunciou que solenizará o 25° aniversário do histórico Encontro acontecido em Assis, em 27 de outubro de 1986. O Bispo de Assis, com os Ministros Gerais das Ordens Franciscanas, a Ordem Franciscana Secular, expressaram em uma Carta, em sintonia espiritual com as irmãs clarissas de numerosos Mosteiros em Assis e no mundo, sua alegria e gratidão pela decisão de Bento XVI, de voltar a Assis no próximo 27 de outubro, no 25° aniversário da Jornada mundial de oração pela paz organizada pelo Venerável João Paulo II. Devemos falar a uma só voz, como Igreja que deve a feste do Natal ao “poverello” e aos filhos de Francisco e Clara em suas diversas expressões e presenças, unidos no considerar Assis a sua “pátria” ideal. Não há dúvida, que a escolha da Cidade Seráfica para este evento, foi devido ao fato de ser a Cidade de Francisco e de Clara, a sua “plantinha”. Em Assis foi apresentado o programa da Jornada de Oração com o tema “Peregrinos da verdade, peregrinos da paz”, que será o seguinte: As Delegações partirão de Roma, na manhã de 27 de outubro, no trem junto com o Santo Padre.

Em Assis, a comitiva irá até a Basílica de Santa Maria dos Anjos, onde haverá um momento de comemoração dos Encontros precedentes e de aprofundamento do tema da Jornada. Em seguida haverá um almoço frugal, partilhado entre os Delegados: uma refeição simples e sóbria. Depois de um tempo de oração e silêncio, todos participarão da caminhada para a Basílica de São Francisco, onde foram concluídos os Encontros precedentes e haverá então, o momento final da Jornada, com a solene renovação do empenho de todos, de trabalhar pela paz no mundo.  

terça-feira, 5 de abril de 2011

Depois da beatificação, Bento XVI e os fiéis poderão venerar restos de João Paulo II

VATICANO, 05 Abr. 11 / 02:31 pm (ACI)

Esta manhã o Escritório de Imprensa da Santa Sé apresentou o programa dos três dias da beatificação do Papa João Paulo II, cujo dia central será o domingo 1º de maio no qual Karol Wojtyla será elevado aos altares.

Na apresentação, o Vigário do Papa para a diocese de Roma, Cardeal Agostino Vallini, detalhou o programa para os três dias de celebração que começarão no sábado 30 de abril com uma Vigília de Oração no Circo Massimo.

A celebração estará dividida em duas partes. A primeira dedicada à lembrança das palavras e os gestos do Papa João Paulo II. Logo em seguida haverá uma solene procissão na que se entronizará a imagem de Maria, Salus Populi Romani, acompanhada por representantes de todas as paróquias e capelanias diocesanas.

Durante o ato alguns colaboradores do novo beato, como o Cardeal Stanislaw Dziwisz, que foi seu secretário, e Joaquín Navarro-Valls, ex-diretor do Escritório de Imprensa da Santa Sede farão um breve discurso. Também participará a Irmã Marie Simon-Pierre, cuja milagrosa cura abriu o caminho para a beatificação. Ao final desta primeira parte se cantará o hino "Totus tuus", composto para o 50º aniversário da ordenação sacerdotal de João Paulo II.

A segunda parte do evento se centra na celebração dos Mistérios Luminosos do Santo Rosário introduzidos por João Paulo II. Depois do canto "Abram as portas a Cristo", do novo beato, o Cardeal Vigário Agostino Vallini fará uma síntese da personalidade espiritual e pastoral do Papa. Após esta intervenção os participantes em conexão direta via satélite com cinco santuários marianos em todo o mundo rezarão o terço.

Cada um dos Mistérios estará ligado a uma intenção de João Paulo II meditados nas vigílias simultâneas que serão celebradas em distintos santuários ao redor do mundo.

No santuário de Lagniewniki, na Cracóvia (Polônia), a intenção será a juventude; no santuário Kawekamo-Bugando (Tanzânia), a família; no santuário de Nossa Senhora do Líbano - Harissa (Líbano), a evangelização; na basílica de Santa Maria de Guadalupe, da Cidade do México, a esperança e a paz das nações e no Santuário de Fátima, a Igreja.

Ao final, Bento XVI em conexão desde o Vaticano, rezará a oração final e repartirá a bênção apostólica a todos os participantes. Essa noite permanecerão abertas para a oração as seguintes igrejas de Roma: Santa Agnese in Agone, na Praça Navona; San Marco al Campidoglio; Santa Anastasia; Santíssimo Nuome di Gesú all'Argentina; Santa Maria in Vallicella; San Giovanni dei Fiorentini; San Andrea della Valle; San Bartolomeo all'Isola.

Em 1º de maio, domingo da Divina Misericórdia, na Praça de São Pedro às 10:00 a.m., o Papa Bento XVI presidirá a Missa de Beatificação de João Paulo II, que estará precedida por uma hora de preparação na qual se rezará o Terço da Divina Misericórdia, devoção introduzida por Santa Faustina Kowalska, e muito apreciada pelo Papa João Paulo II e terminará com uma invocação à misericórdia no mundo, com o canto "Jezu ufamTobie", que quer dizer “Jesus confio em vós”.

Seguirá a Santa Missa com os textos do domingo da Oitava de Páscoa. Depois da fórmula de beatificação, quando for descoberta a imagem do saudoso pontífice, será cantado em latim o Hino do Beato.

Na segunda-feira 2 de maio o Secretário de estado Vaticano, Cardeal Tarcisio Bertone, presidirá às 10:00 a.m. a Missa de Ação de Graças pela Beatificação na Praça de São Pedro.

Esta Eucaristia será a primeira celebrada em honra do novo beato. Os textos serão os da Missa do Beato João Paulo II. A celebração será animada pelo Coro da diocese de Roma, com a participação do Coro de Varsóvia e da Orquestra Sinfônica de Wadowice (Polônia).

O Pe. Federico Lombardi, Diretor da Sala de Imprensa da Santa Sede, explicou que na sexta-feira 29 de abril pela tarde se transladará a tumba do beato Papa Inocencio XI -que se encontra na Capela São Sebastião da basílica vaticano-, ao altar da Transfiguração, para deixar seu lugar ao corpo de João Paulo II.

Essa mesma manhã, o féretro do Pontífice -que não será aberto- transladar-se-á ante a tumba de São Pedro, nas grutas vaticanas. Na manhã do 1º de maio, será levado ante o altar da Confissão da basílica.

Terminada a cerimônia de beatificação, o Papa e os cardeais concelebrantes se dirigirão ao altar da Confissão da basílica e rezarão uns instantes ante o corpo do novo beato. A partir dessa tarde, as pessoas que o desejem poderão venerar os restos de João Paulo II.