Apresenta-se a nós o “exemplo” da doação da vida que Jesus mostrou aos Apóstolos no começo da Ceia, lavando-lhes os pés. Com isso, ele deu a entender que ele é o Servo, que se humilha e carrega sobre si os pecados dos homens (tema da purificação, Jo 13,10). E quem não aceitar este serviço - veja a reação de Pedro - não pode ter comunhão com ele (13,8). Quem não aceita Jesus como o Servo que dá sua vida pelos seus irmãos, não tem parte na salvação que ele traz. Assumir na fé e na prática da vida o exemplo de Jesus (13,15), eis o verdadeiro sentido da “comunhão”, que é: participação na salvação efetivada por Jesus. Assim, a narração do lava-pés mostra por um exemplo o que significam as palavras de Jesus repetidas na oração eucarística: “Isto é o meu corpo, dado por vós... Este é o cálice do meu sangue... que é derramado por vós e por todos, para o perdão dos pecados...” E explica também o sentido profundo por que chamamos este rito de “comunhão”, isto é, participação com Cristo. A 2ª leitura nos apresenta o mais antigo testemunho da celebração eucarística, transmitida pelo apóstolo Paulo: o corpo e sangue de Jesus dados por nós .
A 1ª leitura fornece o fundo histórico para situar a Última Ceia como refeição pascal na vida de Jesus e nas raízes
judaicas da liturgia cristã. Conta a instituição da refeição do cordeiro pascal no antigo judaísmo, com o sentido salvífico que Israel aí reconhece: a libertação da escravidão. O salmo responsorial é um canto que os sacerdotes entoavam ao levantar o cálice da bênção, gesto retomado por Jesus na Última Ceia. O canto da entrada marca, desde o início, o retido júbilo desta celebração, citando as palavras de Paulo aos Coríntios: “Convém gloriarmos... na Cruz do Senhor Jesus Cristo”. Mas para respirar plenamente o espírito desta liturgia convém considerar também as antífonas e responsórios do Lava-pés (sobretudo In Hoc Cognoscent Omnes e Mandatum Novum), bem como a belíssima seqüência da comunhão, Ubi Caritas e Amor. De todos esses cantos existem boas adaptações em nossa língua. Esta liturgia deve fazer penetrar em nós, por seu rito e pela palavra que o explica, o sentido salvífico da Cruz de Cristo, no sentido de que o cristão, aceitando o esvaziamento de Jesus por nós e associando-se a seu modo de viver e morrer, entra na comunhão eterna com ele e com o Pai.
Do livro "Liturgia Dominical", de Johan Konings, SJ, Editora Vozes
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