sábado, 23 de abril de 2011

A Luz da Ressurreição

A comemoração da Ressurreição do Cristo ocorre, desde a mais remota memória da Tradição, na noite de sábadopara domingo, pois na manhã do domingo – o primeiro dia da semana – oSenhor já não está no sepulcro (cf. evangelho Mt 28,1 e par.). Além disto, e não obstante a Páscoa judaica ter outradata (seria a data da Última Ceia), atradição cristã associou a noite da Ressurreição à noite da Páscoa descrita em Ex 12,42, "uma noite de vigília em honra do Senhor". É a noite da libertação. E mais ainda: esta noite ganha o sentido de uma recapitulação do universo, o começo da criação nova e escatológica, pois o Senhor Ressuscitado é a primícia da nova criação. A Ressurreição de Jesus é o penhor da renovação do universo.
Esta liturgia deve falar por si mesma: o mistério da nova luz que surge nas trevas, Cristo que venceu a morte e o pecado. Os fiéis se unem a este mistério, acendendo uma vela na chama do círio pascal, quando de sua entrada triunfal na igreja: é a participação na vida ressuscitada do Senhor. Depois do Exultet, seguem imediatamente as leituras do A.T. (mín. 3, máx. 7) e do N.T. (epístola e evangelho).

Entre as leituras do A.T., a 3ª  é obrigatória, por ser a recordação específica desta noite: a passagem do Mar Vermelho (cf. adiante). Aconselha-se ler a 1ª  leitura (a criação), por causa de seu sentido cósmico e a ligação imediata com o tema da luz na primeira parte da celebração; ela tem como responsório o maravilhoso SI 104[ 103]. Entre a 1ª  leitura e a seguinte reza-se uma oração, que expressa como a re-criação em Cristo supera ainda a criação inicial. A 2ª  leitura oferecida pelo Lecionário vê na vocação e obediência de Abraão (sacrifício de Isaac) o início da vocação universal à salvação; a oração resume este sentido. A 3ª  leitura (noite pascal e libertação do Egito, Ex 14) é obrigatória. Termina no anúncio do cântico de vitória (Ex 15,1); portanto, é normal que este "cântico de Moisés e Míriam (Maria)" seja também cantado ou, pelo menos, declamado (3° responsório, Ex 15). A 4ª  leitura é uma palavra de consolação a Israel no Exílio (Is 54); a 5ª  é o convite para o banquete messiânico, em Is 55; a 6ª  apresenta a Sabedoria que reina sobre o cosmo e a grandeza do único Deus (Br 3-4); a 7ª  (Ez 36) anuncia a reunião escatológica dos filhos dispersos de Israel, também entendida como início de uma nova era; esta leitura é concluída pelo SI 42-43[41-42] ("as águas vivas") ou, à escolha, pelo SI 51[50], segunda parte (dom de um coração novo). Estas leituras formam, por seu conteúdo e simbolismo, uma catequese batismal. Seria interessante organizar, por exemplo, no Sábado Santo, uma celebração ou círculo bíblico com estas leituras, para os que se querem preparar mais conscientemente para a renovação do compromisso batismal durante a noite pascal.

Depois das leituras do A.T., acompanhadas de seus respectivos responsórios e orações, entoa-se o Glória, vitorioso, com acompanhamento de instrumentos e sinos. Segue a oração do dia, que alude à celebração batismal, que tradicionalmente ocorre nesta noite e em função da qual é concebida também a 8ª  leitura, tirada do N.T. (Rrn 6,3-11). Esta compara o batismo com a descida no sepulcro, para que daí os fiéis co-ressuscitem com o Cristo; o homem antigo é crucificado, revestimo-nos do homem novo; pecado e morte já não reinam sobre nós.

Nesta altura, a liturgia faz uma espécie de pausa, para que o presidente da celebração entoe, solenemente, o Aleluia pascal, repetido pelos fiéis, e isto, três vezes. Depois disso, o cantor ou coro entoa a aclamação ao evangelho: "A destra do Senhor fez maravilhas, a destra do Senhor me levantou ... A pedra rejeitada pelos construtores tornou-se pedra angular". O evangelho narra o episódio do túmulo vazio. É específico de Mt o final da narração, a aparição de Jesus ressuscitado às mulheres, que são mandadas para anunciar a ressurreição aos irmãos.

A terceira parte inicia com a ladainha de todos os santos (suprimida quando não há batizado nem bênção da água batismal). Segue a bênção da água, na qual é submergido o círio pascal, simbolizando a descida de Cristo no sepulcro e sua ressurreição, ou seja, o mesmo simbolismo batismal que Paulo desenvolve na leitura que acaba de ser proferida (Rm 6,3ss). Segue a administração do batismo e a bênção da água que os fiéis queiram levar para casa como uma espécie de extensão do rito batismal. Por fim,  renova-se o compromisso batismal, depois do que a liturgia prevê a solene aspersão dos fiéis com água benta, cantando-se o tradicional responsório Vidi Aquam.

A quarta parte, a liturgia eucarística, destaca a ideia de Cristo Cordeiro pascal (oração sobre as oferendas, prefácio da Páscoa I, canto da comunhão). A tipologia batismal desaparece, dando lugar à ideia sacrifical. Contudo, só há participação na doação sacrifical do Cristo, onde houver a participação da fé, assinalada pelo batismo.


Do livro "Liturgia Dominical", de Johan Konings, SJ, Editora Vozes


Fonte:http://www.franciscanos.org.br/v3/vidacrista/liturgia/liturgiadominical/2011/abril/230411b.php

Nenhum comentário:

Postar um comentário