sexta-feira, 15 de abril de 2011

Seja Crucificado

Dom Pedro José Conti

Bispo de Macapá - AP

A Semana Santa inicia com o relato da entrada de Jesus em Jerusalém. As multidões gritavam: ”Hosana ao Filho de Davi! Bendito o que vem em nome do Senhor! Hosana no mais alto dos céus!“. Tudo parece bonito. Um verdadeiro triunfo. Não foi bem assim. Alguns dias depois o povo que o reconheceu como “o profeta Jesus, de Nazaré da Galileia”, não hesita em gritar também contra ele: “Seja crucificado!”.

Por isso a liturgia do Domingo de Ramos nos oferece, no mesmo dia, também a leitura da Paixão do Senhor; este ano segundo o evangelista Mateus. Dessa forma a figura de Jesus crucificado se destaca, acima de tudo e de todos, nestes dias. Levantamos os olhos para a cruz e, mais ainda, para aquele que lá morre entre atrozes tormentos. Assim, o símbolo da morte vergonhosa se transforma em “árvore da vida”. O sinal da vergonha, do sofrimento e da crueldade humana se torna sinal de vitória, perdão e reconciliação. É Jesus, aquele que morre na cruz, que faz da maior derrota o momento culminante da grandeza e da gratuidade do amor de Deus.

Hoje muitos querem esconder a cruz de Jesus, esquecê-la, reduzi-la a uma crença particular, de mau gosto, inclusive, por apresentar um homem despido na hora da agonia e da morte. Mas por que ter medo da cruz e do crucificado? Não foi calada para sempre a sua voz? Não foi. Por isso o sinal da fé cristã continua incomodando: mais do que as nossas palavras e, felizmente, muito mais do que a nossa incapacidade e incoerência em viver tudo o que Ele fez e ensinou.

A cruz sempre será sinal de vergonha, para o condenado, pensavam os juízes. De fato a vergonha ficou para eles, por causa de um processo de cartas marcadas, onde tudo foi falso desde as testemunhas, até as acusações. Uma vida julgada como algo que não valia nada, mais para amedrontar do que para fazer justiça. É o sofrimento inocente que chama atenção. A dor de quem paga por aquilo que não fez, pelos preconceitos, pelo medo dos grandes de perder a posição, o poder e os privilégios. Assim Jesus é mais um daqueles - homens, mulheres e crianças, pobres e esquecidos - que podem morrer, porque não fazem falta numa sociedade onde vale o poder aquisitivo, a posição social, as amizades importantes, os relacionamentos de alto nível. Fácil acabar com quem não pode se defender. Fácil esquecer quem já era ignorado. Fácil dispersar alguns fanáticos fujões e algumas mulheres choronas! Tudo vai passar. No entanto, eles, os juízes, foram esquecidos, Jesus não.

A cruz é também sinal de amor e vitória. Jesus paga com a sua própria vida não o mal que fez, mas o bem. Morre por ter desobedecido a uma lei desumana, porque não teve medo de curar em dia de sábado os que estavam presos na doença. Morre por ter perdoado e ensinado a perdoar os pecados das prostitutas e dos cobradores de impostos, daqueles que já estavam condenados pela falsa moral dos que se consideravam justos e, portanto, na condição de julgar os outros. Para Jesus não tem ovelha perdida que não possa ser resgatada e amada novamente. Ele morre por ter revelado o rosto verdadeiro de Deus Pai, rico em misericórdia e compaixão. Morre por ter ensinado aos seus amigos a buscar o último lugar, a servir e não a serem servidos; a doar sem exigir reconhecimento; a dar tudo, até a própria vida, porque não tem amor maior do que esse. O exemplo de Jesus é a sua vitória. A vitória da fidelidade sobre a traição, da humildade sobre a arrogância, da obediência por amor sobre o individualismo egoísta; a vitória de uma vida renovada sobre a morte de sempre.

Lembramos as palavras esclarecedoras dos padres do Concílio Vaticano II: “... se bem que os principais dos Judeus, com seus seguidores, insistiram na morte de Cristo, aquilo, contudo, que se perpetrou na sua Paixão não pode indistintamente ser imputado a todos os judeus que então viviam, nem aos de hoje... De resto, a Igreja sempre teve e tem por bem ensinar que Cristo por causa dos pecados de todos os homens, sofreu voluntariamente e por imenso amor se sujeitou à morte, para que todos conseguissem a salvação. Cabe, pois, à Igreja pregadora, anunciar a cruz de Cristo como sinal de amor universal de Deus e fonte de toda a graça.” (NE 4). Com esta fé e com estes sentimentos acompanhamos Jesus no caminho do Calvário para encontrá-lo e reconhecê-lo vivo ao amanhecer do dia da Ressurreição!

Fonte:http://www.cnbb.org.br/site/articulistas/dom-pedro-jose-conti/6314-seja-crucificado

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