terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Carta natalícia 2009: "Maria Ficou com ela cerca de três mêses" (Lc 1, 56)

A Mensagem natalícia enviada a todos os frades e homens e mulheres de boa vontade, escrita pelo Frei Mauro Jöhri, Ministro Geral da Ordem Capuchinha, tem o tema: "Maria Ficou com ela cerca de três mêses" (Lc 1, 56).
Carta natalícia 2009: "Maria Ficou com ela cerca de três mêses" (Lc 1, 56)

Caros irmãos, Paz e Bem!


1. Natal na Ilha de Guam


No ano passado, pouco antes do Natal, visitando com frei Mark Schenk, Definidor Geral, os nossos confrades da Austrália, Timor Leste, Papua Nova Guiné e Nova Zelândia, concluímos o longo périplo na Ilha de Guam. Faltavam poucos dias para o Natal e encontramos o nosso convento de Agana Heights bem adornado para as festividades natalícias. Havia um grande presépio com muitas cenas da vida quotidiana e muita neve fictícia, exatamente onde faz muito calor. Não faltavam nem mesmo as árvores natalinas, as estrelas e as grandes figuras de anjos filiformes. Até os corredores da casa estavam enfeitados para a festa. Perguntamos-nos que sentido teria todo aquele aparato de decorações natalícias. Chegados no meio da noite, tivemos de esperar até a noite seguinte para ter a resposta. Pouco depois das 18 h começaram a chegar os grupos de pessoas. Famílias inteiras com tantas crianças, ônibus com pessoas de todas as idades. Na praça diante do convento, um grupo de senhoras tinha posto uma série de mesas e cadeiras, mas sobretudo tantos dons de Deus. Todos podiam servir-se livremente do que havia ali. As pessoas, depois de terem visitado o Presépio e tudo o que havia para ver, vinham para a ceia. Frei Eric, o Ministro Vice-Provincial e outros frades ficaram ali fora conversando com os convidados até tarde da noite. Depois soubemos que a ceia era organizada cada noite pelo povo de uma paróquia onde os frades trabalham.

2.Povo em ação
Após ter vivido este momento por algumas noites e vendo que o número das pessoas não diminuía, fiquei muito edificado, pois compreendi que não se tratava só de visitar o Presépio e depois ir embora. Essa visita era unida a um momento de convívio. E o estar juntos não podia faltar. Foi muito bonito ver as pessoas parar para conversar entre si ou com os frades e ao mesmo tempo ver as crianças correndo e brincando no adro. Assim é preparado e vivido o Natal na Ilha de Guam. Por que eu conto isto? Pelo simples fato de que isto me tocou muito e porque vi nisso um nexo com os Evangelhos da Infância de Jesus. Peguem os primeiros dois capítulos do Evangelho de Lucas e admirem quanta gente está em movimento. Anjos enviados do céu a Zacarias, Maria e os pastores; Maria que vai visitar sua prima Isabel; os vizinhos e os parentes que se alegram pelo nascimento de João o Batista; os pastores que decidem partir sem demora para Belém. Tanta gente simples que se põe em movimento, mesmo no meio da noite, pela alegria de partilhar um evento familiar inesperado. E no templo estão Simeão e Ana que esperam.

3.O dom do próprio tempo

Quem parte retornará certamente para sua casa, porém nunca sem ter passado algum tempo junto com alguém. É o caso de Maria que, depois de ter ido às pressas pela região montanhosa, a uma cidade da Judeia, permanece por cerca de três meses com a prima Isabel. Mas é também o caso dos pastores vindos a Belém, os quais antes de voltar e relatar tudo o que lhes fora dito sobre o menino, ficam algum tempo a observar admirados. O mesmo diga-se do Natal de Greccio: para a ocasião foram convocados frades de várias partes, homens, mulheres da região, e, por fim chegou também Francisco! É bela esta imagem de gente a caminho, mas que também para, festeja e celebra o nascimento do Menino ou a recordação deste evento (I Cel. 85) sem preocupar-se com o tempo que passa e a noite que se faz sempre mais escura.

4.A maior distância

Eu conto tudo isto porque gostaria que cada um de nós se colocasse em movimento no tempo do próximo Natal. Um movimento para ir ao encontro de alguém e partilhar com essa pessoa um bom momento fraterno. Imagino que às vezes, a distância maior seja a de uma cela para outra dentro da mesma fraternidade. É um irmão com o qual eu não converso faz tempo ou com o qual me limito a dizer unicamente o estrito necessário. Irmãos, por que não fazer da próxima festa natalina, a ocasião de ir ao encontro de alguém de quem descuidamos o contato ou mesmo evitamos? Por que não caminhar na direção do outro, para partilhar com ele um momento festivo? Doar o próprio tempo a alguém e fazê-lo de modo gratuito, sem ficar olhando o relógio. Não é só um gesto de verdadeira fraternidade, é um gesto de amor!


5.Gestos novos

Caros irmãos, todos nós temos necessidade de gestos novos, de um pouco de legítima humanidade, e não é menos importante, cada um de nós tem a capacidade de oferecer este tipo de gesto. Diz-se que Maria permaneceu cerca de três meses com sua prima Isabel, isso significa que ela deu à prima, seu tempo. Nunca vos aconteceu de experimentar uma profunda desilusão por terdes vos alegrado muito por uma visita, mas o amigo, após a saudação, teve de partir porque não tinha tempo? Eu faço votos de que neste Natal, em todas as nossas fraternidades, nós dediquemos um pouco de tempo para estar juntos e que se passe do mínimo necessário, à dimensão da gratuidade. Bem sabemos que uma visita, ou o tempo dado gratuitamente, frequentemente nos torna mais felizes do que um presente precioso. Então, movamo-nos! Dizendo isto não quero deixar de enviar a cada um de vocês meu vivíssimo augúrio de um Santo e Bom Natal recordando que "o santíssimo Pai celeste, nosso rei antes dos séculos, mandou do alto seu Filho dileto, que nasceu da beata Virgem santa Maria" (São Francisco)

Natal de 2009
Frei Mauro Jöhri,
Ministro Geral OFMcap

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